Absolutamente longe de quem eu fui, das origens dos meus pensamentos, das minhas idéias puras, que nasceram livres e distantes deste mundo. Estou só. Cercada de muita gente, gente que julga meus atos e o que pensam ser as minhas idéias, mas não fazem idéia de quem sou, pois estou absolutamente longe de mim. Falta-me a terra, entranhando-se por baixo das minhas unhas, por baixo dos cabelos, sujando-me o rosto, vincando-o por entre o suor. Faltam-me as estrelas quietas, em seu diálogo mudo, conversando com quem eu fui. Faltam-me as árvores galhadas imensas para que eu escale o mundo, para que escale a minha vida, para que eu leia em suas ranhuras que faço parte da sua natureza selvagem, que não sou diferente do seu envelhecimento tácito. Falta-me a calma para observar a ternura do olhar do cachorro velho, que estará sempre ali, mesmo que eu já não o veja mais.
Desprendi-me de quem eu sou. Agora apenas funciono, faço parte das engrenagens de uma vida que me pegou de surpresa, e me roubou de mim. Absolutamente longe de quem eu fui, deparo-me com uma estranha, de repente, uma mulher que eu desconheço, desaprovo, e desfaleço ao olhar-me no espelho e ver que essa mulher, sou eu.
Já não sei onde estão meus livros, perdi tudo o que já escrevi, perdi as lembranças das minhas dores, das minhas euforias, dos meus assaltos de medo. Perdi o medo. Perdi a fantasia, perdi a poesia. Não sei mais dançar, meus pés agora não me guiam pela suavidade de um movimento extasiado de sentimentos. Hoje, meus pés são armas que me defendem do que eu já não temo.
Perdi parte de mim na estação de trem, na hora não percebi e não chorei. Nunca mais chorei, pois já estava me afastando de mim. Esperei, esperei, esperei. Sonhei, desejei, enlouqueci. Hoje, com as lágrimas secas de um pranto esquecido, percebo, apenas, que sobrevivi.
CT
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