Mais uma vez eu me desconstruo, e a partir de agora, eu já não sei mais. Estou mordendo avidamente as amarras que me sufocaram os pulsos por certo tempo, não sei exatamente o quanto, nem o contei. Mais uma vez trago sangue na minha boca, de tanto fazer força pra destroçá-las, elas que me seguraram com tanta vontade. Estive assim, pois assim o quis, ou assim foi preciso. Estive afastada de quem eu sou, atada a outros corpos e outras vidas, evitando o tédio da minha, mais uma vez. Convivi com regras, estabeleci horários, “obedeci a desejos normais”, enquadrei-me na vida “normal”. Regrei minha vida a partir de desejos “normais”, não interessava se me pertenciam ou não. Faziam parte dos meus compromissos, das minhas rotinas “normais”. Igual a todas as pessoas, Igualzinha. Apodreci. Cheguei a desejar fazer parte de grandes grupos, grandes instituições, para não ser vista, para não precisar mais pensar, não precisar mais viver. Apenas acompanhar o grupo. Pouco interessava o que o grupo fizesse, quanto mais movimentado melhor, menos força para realmente viver. Estive muito preguiçosa pra viver nesses últimos momentos, muito mais fácil juntar-me a outras vidas amarrar-me a elas, atar-me e ater-me somente a elas. Esquecer a minha, pois é muito tediosa.
Mas meu espírito continua inquieto, meu corpo não se satisfaz mais, preciso falar na primeira pessoa, preciso arrancar as amarras que me confortaram tanto, me sufocando. A morte é confortável, mas a vida pulsa em mim, estoura minhas entranhas, arranca-me das sepulturas tão bem talhadas que eu mesma preparei, esperando descansar... a paz não existe, a paz seria patética, a paz seria o fim de tudo. Eu quero viver a guerra mais uma vez, escolher outras formas de me recortar, quase morrer de novo, pra depois gritar. Perco o sono, que merda, eu precisava estar dormindo agora, amanhã o dia está todo pronto, devo apenas seguir a agenda. Mais um dia de morte suspensa, mais um dia que acabarei exausta e tecnicamente feliz por ter cumprido tudo o que precisava. Devia. Era esperado que fosse assim. Ok, parei de sangrar, não pude ainda arrancar as malditas amarras, meus dentes estão cansados e fracos e o sangue jorrou da minha boca, sem direção alguma. Metáforas não têm espaço no meu dia de amanhã, ele está repleto de coisas “normais”. Vou deitar agora na minha cama, sozinha, sonhar que faço amor com alguém, estou cansada demais pra me tocar, então vou virar pro lado, não vou acender nenhum cigarro e vou dormir depois de gozar da minha própria desconstrução.
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